terça-feira, 20 de outubro de 2015

OS CONTOS DE FADAS e A IMPORTÂNCIA DA FANTASIA , da RECUPERAÇÃO, do ESCAPE, do CONSOLO > DA PUNIÇÃO À CLEMÊNCIA

    

São características imprescindíveis num conto de fadas a Fantasia, a recuperação, o escape e o consolo. As falhas das modernas estórias de fadas enfatizam os elementos que dão maior sustentação aos contos tradicionais. Isso é um erro, pois impede que a criança trabalhe intimamente  seus sentimentos psicológicos.


Tolkien, J. R. ( “Tree and Leaf” ) – descreve as facetas necessárias a um bom conto de fadas. São elas: 1- a Fantasia > trabalha com o imaginário; 2- Recuperação > corresponde à reviravolta subitamente feliz que traz o alívio e retomada do fôlego; 3- Escape > a alternância oportuna que abre novos horizontes; 4- Consolo > o malfeitor é punido e o herói vive feliz – ou seja, é o restabelecer da ordem certa do mundo. A punição e a recompensa equivalem à eliminação da maldade. Haveria também outro elemento importante > a ameaça (física ou moral) > ela acontece como um elemento natural da vida.


            A criança vê a vida no que se refere a acontecimentos externos, mesmo os perigos mais graves, como uma sequencia de períodos da vida calma que são interrompidos subitamente e de forma incompreensível para ela quando é exposta a perigos e ela fica à mercê do destino inexorável. As saídas para ela são o desespero (choro até que chegue a ajuda mágica como ocorre nos contos de fadas) ou tenta fugir de tudo (como ocorre com a personagem Branca de Neve).


O maior medo da criança – e do homem – é o de ficar só, o de ser abandonada; portanto, sempre deve haver o consolo e a segurança de que jamais será abandonada.


A felicidade e a realização que são o consolo fundamental do conto de fadas tem significado em dois níveis: 1- a permanente união de um príncipe e uma princesa simbolizam a integração de aspectos  dispares da personalidade (id, ego,superego), e 2- a conquista da harmonia entre os opostos (masculino/ feminino).


Rapunzel, por exemplo, ilustra a fantasia, o escape, a recuperação e o consolo. As tranças e as lágrimas, de forma imaginativa exagerada, são os elementos fantásticos da realização dos desejos que levam a um crescimento pessoal, pois sugerem que enquanto a aparência externa sobressai (tranças sempre compridas) internamente há um desenvolvimento silencioso gradativo. O sofrimento e o isolamento representam uma era de recuperação após o qual poderá realizar o final feliz.

Muitos dos contos modernos têm finais tristes que não oferecem o escape e o consolo dos contos de fadas tradicionais; a criança fica privada da esperança verdadeira, aquela que ajuda a enfrentar a adversidades da vida.

 

Justiça ou Clemência > O castigo merecido e a justiça feita são elementos de sustentação ética que a orientam a não ceder aos desejos anti-sociais. Em sua pureza e inocência, a criança fica insatisfeita, por exemplo, quando a verdade não é restabelecida e a maldade deixou de ser punida. Já os adultos, fecham os olhos e tendem a admitir a clemência, pois instintivamente é o que o ego pede para si mesmo enquanto ser já corrompido pelos usos e costumes de uma sociedade permissiva. A atitude de clemência frustra a criança; o consolo requer a justiça!

 

Nunca se deve ‘explicar’ os significados dos contos para as crianças. Os contos de fadas descrevem estados internos da mente, por meio de imagens e ações. Exemplo > no conto da Cinderela, a mãe dela morre, não cotam que ela sofreu pela mãe ou lamentou sua perda e que se sentiu sozinha; simplesmente falam que ‘todos os dias ela ia ao túmulo da mãe e chorava’.


Infelizmente algumas pessoas modernas rejeitam os contos de fadas aplicando à literatura infantil padrões inapropriados. Esquecem que o seu conteúdo é simbólico sobre acontecimentos psicológicos, o que para a criança resulta em verdadeiras lições que envolvem toda uma sequencia de etapas de crescimento através da ação desenrolada no contexto mágico do conto. Para ela o significado dos números Um, Dois e Três tem um significado próprio. O ‘um’ > é o nós em relação ao mundo; o ‘dois’ > é o casal = pai &mãe; o ‘dois’ contra ‘um’ representa a in justiça sofrida; o ‘três’ é a sua relação com os pais, mas não representa relação com os irmãos.



L. Carrol chamou os contos de fadas de ‘um presente de amor’, pois ele sempre dá a certeza de um final feliz mesmo para pessoas menos favorecidas. Além de despertar sua curiosidade e entretê-la, o conto de fadas deve ser um estímulo para a imaginação, ajudando-a a desenvolver o intelecto e tornar claras suas emoções. Jamais menosprezar a criança. Para ela o mais importante é aquilo que lhe parece correto. E é este tipo de literatura que lhe oferece toda a simbologia sobre os problemas existenciais que a ajudam de forma simplificada a entender o mundo que a rodeia nos primeiros anos de vida. Em síntese, os contos de fadas tem  valor terapêutico, segundo B. Bethelhein.