terça-feira, 13 de janeiro de 2015

O 'SÃO SEBASTIÃO DO TIJUCO PRETO"

A CIDADE DE PIRAJU – ESTÂNCIA TURISTICA  do interior paulista, localizada às margens do Rio Paranapanema, no próximo dia 20 – dia de São Sebastião – padroeiro da cidade - comemora mais um aniversário. Este texto - resumo do livro “O São Sebastião do Tijuco Preto” - é em sua homenagem.

O "SÃO SEBASTIÃO DO TIJUCO PRETO” 

    Autor: Constantino Leman

 

 

O livro: "O São Sebastião do Tijuco Preto"- de autoria do jornalista e historiador Constantino Leman - é uma monografia escrita em 1969. O prefácio é de Silva Ramos, romancista que fala do esforço do autor para realizar a pesquisa, as dificuldades naturais como a falta de documentação, tendo que recorrer ao testemunho idôneo de moradores da cidade adotada como sua terra - Piraju - suprindo a história oficial do município.

Na "orelha" temos a biografia do autor redigida por Luiz Caramaschi - lembrando que "nenhuma coletividade pode tomar consciência de si mesma, sem deslembrar a sua história".

O autor discorre sobre a história político-social e econômica do então nascente município, seus primeiros moradores e como se organizou o que hoje é a cidade. Retrata a infância – ‘30 anos de sua história’ - da atual "Estância Turistica de Piraju" localizada às margens do rio Paranapanema - São Paulo.

A narrativa tem início com a viagem da família Arruda e seu itinerário desde a cidade de Botucatu, passando por São Bartolomeu, Coqueiros e Manduri antes de atingir as barrancas do caudaloso rio Paranapanema cheio de corredeiras.

Joaquim Antonio de Arruda comprou terras nessa região e para lá se deslocou para lá no ano de 1856, com a família, agregados, uma boiada, mulas; a comitiva atravessa campos, riachos, coqueirais, terrenos a princípio acidentados e depois mais abertos - os chapadões, até chegar a Manduri – o nome atribuído é devido à presença de grande número dessas pequenas abelhas.

A comitiva acampou na região e os filhos partiram em busca do rio que servia de referência para a localização das terras adquiridas. Eles tinham notícias da presença de índios na região, os Caiuás, e temiam um encontro.

Ao atingirem as margens do rio Paranapanema, devido a dificuldade para atravessá-lo, acamparam no "bairro dos catetos". Nova busca, encontraram uma passagem segura, ganhando a outra margem com a comitiva. Ao chegar ao local  adquirido, encontraram outras famílias já instaladas: - Domingos Faustino de Souza, cujas terras faziam divisa com as de Joaquim Antonio de Arruda, e o vizinho João Antonio Graciano.

O espírito religioso da família Arruda, devota de São Sebastião, veio de encontro ao desejo dos outros moradores de construir uma capela em homenagem ao Santo. A doação de terras entre as famílias Arruda, Graciano e Faustino deu origem ao Patrimônio de São Sebastião do Tijuco Preto. A construção da capela de taipa atraiu a curiosidade da vizinhança e moradores como Nhá Zuina (Da. Gesuína) que se sentiu provocada, pois, como moradora antiga não havia sido consultada pelos novos vizinhos. A capela foi construída e o sino trazido de Botucatu foi instalado ao lado. Boa parte da construção coube à família Arruda; hábeis artesãos no trabalho com madeira fabricaram as portas, janelas e demais detalhes que ornaram a capela.

A possível origem da denominação "Tijuco Preto" - considerado uma corrupção da expressão guarani da palavra Teyquê-pê que significa entrada (Teyquê), e caminho (pê). O local já era conhecido na capital paulista graças aos "cometas" - comerciantes que percorriam a região em lombo de burro; eles serviam de correio e de jornal levando e trazendo notícias.

No capítulo dedicado aos índios "Caiuás", conta como chegaram à região. Uma tribo de índios caiuá de nome "Piraju" se instalara na região em 1845; fugiam dos índios "coroados" em busca de caça e pesca farta do rio. Uma parte ficou em Itararé em terras pertencentes ao Barão de Antonina onde missionários italianos trabalhavam na catequese; a outra veio para Tijuco Preto.

    A Imagem de São Sebastião - O contacto com os índios ‘Caiuás’ se deu quando, procurando trabalhadores para suas terras, Joaquim Antonio Arruda descobriu que eles possuíam uma imagem em madeira do santo de sua devoção - São Sebastião! Feita a troca e despertada a cobiça, segundo a história, seguiu-se uma série de incidentes de roubo da imagem já instalada na capela; após várias diligências, inclusive do Barão do Rio Branco, a pendência entre indígenas e moradores de Tijuco Preto foi solucionada; a imagem, como relíquia e símbolo religioso permanece na atual Igreja Matriz de Piraju. São Sebastião tornou-se o Santo Padroeiro da cidade.

  O autor prossegue com o histórico da criação da Paróquia de São Sebastião do Tijuco Preto (29/08/1872) e as eleições de Juízes de Paz, Vereadores e "Eleitores". O município foi criado pela lei 111 de 25/06/1880 - cita os primeiros personagens da história político -social do município cuja população esparsa refletia o quadro nacional da época, gerando conflitos de interesses.

A região foi considerada "covil de criminosos" até quando o Gal. Ataliba Leonel assumiu o comando político.

Ressalta a importância do rio Paranapanema como via de acesso ao interior junto a uma estrada com ramificações ligando localidades como Fartura, Belo Monte (Tejupá), Tijuco Preto, Ilha Grande (Ipauçu).

Ao falar do traçado urbano, o autor  cita as três principais ruas que deram a base de desenvolvimento e crescimento da pequena vila em formação: - ‘Rua 13 de Maio’, ‘Rua Major Mariano’ e ‘Rua Carlos de Campos’ que na época se chamavam respectivamente: ‘Rua do Comércio’, ‘Rua da Ponte’ e ‘Rua da Cadeia’; e as nove travessas (Rua da  Aurora - atual Esaldivar Serra Braga;, Rua do Melchior - atual Francisco de Oliveira, Rua do Alferes - atual Cel. João Oliva; Rua do Chafariz, ou da ‘biquinha’, atual Nenê Freitas; a atual Rua João Hailer era a Rua Itararé; a atual Rua Cel. Nhonhô Braga era a rua do Ipiranga, e a Rua 7 de Setembro que conservou o nome, etc.). Também foram definidos o Largo da Matriz e o Largo do Arruda.

Os dados estatísticos (1886) se referem às atividades comerciais e agropastoris com a produção de fumo, café, cana, e a criação de porcos. Fala também da administração municipal sem verbas nem para iluminação pública autorizando aos moradores a iluminarem a frente de suas residências.

A pequena cidade de Piraju se destacou por ato da Câmara no dia 15/01/1888 antecipando a abolição da escravatura; não há registro do número de beneficiados.

A cerimônia de adesão ao Regime Republicano, atendendo a orientação do governo do Estado, teve sessão solene e discursos ao som da Marselhesa (hino frances) executada pela Banda de Música local.  A Proclamação da República trouxe um novo quadro de interesses e conflitos à cidade envolvendo os antigos e os novos moradores.

Em 1890, o intendente Benedito da Silveira Camargo solicitou a mudança do nome da cidade para "São Sebastião de Piraju", primeiro e verdadeiro nome, no que foi atendido pelo decreto no. 200 de 06 de Junho de 1891, do presidente do Estado de São Paulo Américo Brasiliense de Almeida Mello. Cita várias pesquisas para determinar a origem do município - teria sido desmembrado de Botucatu ou pertencente a Faxina (Itapeva); ou teria pertencido a Rio Novo, atual Avaré.

Encerra o trabalho oferecendo-o ao Brasil como o "retrato da infância de uma das mais belas cidades" - Piraju.

Nota: Este texto foi publicado inicialmente em janeiro de 2009 no site do  Shvoong.com – (desativado em setembro/2014) - devido ao interesse despertado, o texto foi revisto e ampliado, passando a fazer parte deste Blog.