segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

CONTOS DE FADAS E OS MITOS – OTIMISMO & PESSIMISMO NA LUTA PELA MATURIDADE.

- O que é mais importante na  formação da personalidade  de crianças e jovens? – a experiência do cotidiano real como prega a educação contemporânea ou as experiências intelectuais adquiridas através de uma educação literária com a narração de contos, ‘mitos’, lendas em vez de meros fatos e acontecimentos cotidianos?
Platão já sabia que as experiências intelectuais é que contribuem para a verdadeira humanidade.  Ele sugeria que os cidadãos de sua república ideal começassem sua educação literária com a narração dos "mitos" em vez de utilizar os fatos, os ensinamentos racionais.
Os pensadores modernos que estudaram os mitos e os contos de fadas do ponto de vista filosófico ou psicológico chegaram à mesma conclusão: - ‘estas estórias são modelos de comportamento humano e dão significado e valor à vida’.
A história de fadas é otimista mesmo quando aborda temas com detalhes muito sérios. Como na infância tudo está em transformação, de forma mais intensa que em outras fases da vida, o conto lhe oferece de forma simbólica o significado da batalha íntima que ela tem que travar para conseguir sua realização, pois além de tudo lhe acena com um estimulante final feliz. O herói vence os problemas e se comporta como pessoas muito parecidas conosco cuja identificação  ocorre através da descrição (Chapeuzinho Vermelho)  ou de um nome genérico (João e Maria) e os demais personagens surgem como reis, rainhas, pai, pescador, madrasta, etc.
Qualquer dos acontecimentos vivenciados nesses momentos lúdicos, são humanos, semelhantes às tarefas que a criança tem que enfrentar no dia a dia motivando-a  também lutar e vencer seus medos e dificuldades.
Esse é o tipo de conto ideal para os primeiros anos de vida.
Na sequência, o herói dos mitos porta exigências tão rigorosas que desencorajam a criança nos seus esforços inexperientes para uma integração da personalidade. O herói vivencia uma transfiguração para a vida no céu, o que provoca uma frustração, e, portanto não é o ideal para a formação da personalidade como um todo. Ele sobrepuja a necessidade de imitar o "herói" em sua própria vida. Muitas vezes causa uma impressão tão forte que a criança em sua pequenez frente ao "herói" desenvolve o sentimento de inferioridade. Porém, contribui na formação do super ego; mas, o ser humano não tem como viver integralmente de acordo com o super ego.
O mito por si só é pessimista, enquanto  o conto de fadas é otimista.
Vivenciar o mito de Édipo, por exemplo, é uma forma de liberar tensões internas originadas na mente infantil em relação aos pais. O que menos uma criança precisa é ter conflitos desse gênero, pois apenas irá aumentar sua ansiedade sobre si e sobre o mundo produzindo um desequilíbrio emocional.
Dos quatro anos à puberdade o que mais a criança necessita é que lhe sejam apresentadas imagens simbólicas que  ressegurem a existência de uma solução feliz para seus problemas.
A conquista da maturidade se dará sem conflitos, se respeitadas as fases de crescimento. A educação sexual moderna não convence, pois não parte de uma compreensão de que a criança pode achar o sexo repulsivo, e de que esta perspectiva tem uma função protetora muito importante para ela. Deve-se transmitir às crianças que o sexo pode de início parecer repulsivo como um animal, mas que há a maneira e o tempo certo de ocorrer. É nesta fase que o conto de fadas mais uma vez tem sua importância. Ele alude às experiências sexuais de forma psicologicamente consistente muito mais do que a educação sexual consciente. A teoria da educação sexual moderna, que tenta ensinar que o sexo é normal, agradável, belo, e seguramente útil à sobrevivência humana, é falha e até contraproducente por não respeitar a sexualidade inconsciente da criança e de sua ansiedade frente a sentimentos e impulsos naturais que são muito diferentes dos vividos na idade adulta.
B. Bettelhein em "A Psicanálise dos Contos de Fadas" faz uma análise sobre a conquista da maturidade estabelecendo a linha evolutiva do comportamento transformador no inconsciente da criança, ressaltando a importância do tempo necessário para essa reviravolta nos sentimentos. Analisa "O Rei Sapo"- versão de "Cupido e Psiquê" - para explicar essa reviravolta que a criança sofre na conquista do amor, que pode ser lenta, demorada, requerendo muitos anos de trabalho; nem sempre tudo ocorre de súbito. É o que sugerem contos como: - “O Porco Encantado”, “Cupido e Psiquê”, “ A Leste o Sol e Oeste a Lua", "O Barba Azul", "A Bela e a Fera", etc.
O conto de Fada age como espelho mágico que reflete aspectos do nosso mundo interior e os processos necessários para evoluirmos da imaturidade para a maturidade. Quem se deixa conduzir pelo conto, percebe que ele reflete a própria imagem e permite que a alma confusa e inquieta tenha uma nova visão do mundo e conquiste a paz através de um caminho novo que lhe diz que suas lutas terão recompensa. O conto não necessita explicitar as vantagens de uma união; basta a imagem marcante: os bons vivem felizes, e os maus podem ser redimidos. Essa imagem leva à paz interior e com o mundo. 

A antiguidade dos contos do gênero homem-animal e sua simbologia são a prova do grande valor na formação da personalidade com o aprendizado em lidar com os aspectos sexuais:- se animalescos, extremamente perniciosos... Esta mensagem é transmitida sem mencionar diretamente nada de sexual. Para amar precisamos do sentimento; para chegar a ele há os passos a serem seguidos até desenvolver uma consciência responsável numa união pessoal e sexual feliz. A maturidade e a seriedade é que determinarão o sucesso de uma relação.