terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A PSICANÁLISE DOS CONTOS DE FADAS ( Bruno Bettelhein) – RESUMO

  
Os contos tiveram um papel importante na formação das pessoas. De simples narrativas populares os contos foram ganhando novos elementos conforme iam sendo contados tornaram-se mais refinados, e ao mesmo tempo em que apresentam significados manifestados e encobertos, atingindo todos os tipos de personalidades humanas - criança ingênua, ou adulto sofisticado. Os contos de Fadas transmitem importantes mensagens à mente consciente, pré-consciente e a inconsciente, em qualquer nível de funcionamento. Como falam ao "ego" em formação, encorajam o desenvolvimento, além de aliviar tensões e pressões conscientes ou não. Com o desenrolar da narrativa, os contos validam as pressões do "id" indicando caminhos para satisfazê-los, que estão em concordância com as necessidades do "ego" e do "super-ego".
Uma criança aprecia um conto de Fadas porque eles começam exatamente no nível psicológico e emocional em que ela se encontra. Falam das pressões que ela sente, oferecendo soluções temporárias e permanentes para as dificuldades sentidas. Ensinam que a luta contra as dificuldades na vida é inevitável e que a pessoa não se intimida e enfrenta de forma firme, decisiva, vencendo situações muitas vezes injustas e inesperadas. Morte, velhice, separação, sofrimento, problemas angustiantes devem fazer parte desse mundo que fala à mente em formação.
Dilemas devem ser apresentados de forma breve e categórica. Deve apresentar um equilíbrio entre o bem e o mal - Este é com frequência vitorioso, com punição final - constituindo-se num fator limitado de intimidação do crime. O crime não compensa! Não é o fato de a virtude vencer no final que vai promover a moralidade, mas de que a figura do herói é mais atraente.
A psicanálise foi criada para capacitar o homem a aceitar a natureza problemática da vida, sem ser derrotado ou cair no escapismo. A ambiguidade de conduta - boa ou má - permite entender a diferença entre elas, reforçando o caráter para o lado positivo. Contos amorais não mostram polarização.
O impacto formativo das figuras e eventos maravilhosos dos contos de Fadas é notório no passado e no presente: - escritores e poetas do passado lembram suas experiências positivas. O descaso atual em relação a essa experiência intelectual, por parte dos pais é grave; ao dar a sua interpretação ao texto, tiram a oportunidade, impedem que ela encontre o significado importante à sua formação.
Os contos de Fadas não pretendem mostrar o mundo como ele é - isso fica a cargo das religiões, mitos, e fábulas. O conto aconselha o que alguém deve fazer. Por isso ele é terapêutico. Cada um encontra sua própria solução, através da contemplação do que a estória representa em termos de conflitos internos nesse momento de vida. O conteúdo não precisa ter a ver com o problema vivido que parece insolúvel. Deve falar ao mundo interior. O mito não tem esse objetivo.
O que é o mundo? Como viver nele? - pontos de vista adultos jamais vão satisfazer essas questões em uma criança. Sua relação nos primeiros anos de vida é anímica. Tudo tem vida. E se comporta em relação às coisas como se tivesse vida. Esse tipo de pensamento animista, segundo Piaget permanece até a puberdade, mesmo que os adultos lhe imponham um ensinamento racional. Quando os pais acreditavam que as estórias bíblicas resolviam a charada de nossa existência e de sua finalidade, era fácil fazer a criança sentir-se segura. A Bíblia dizia tudo o que o homem precisava saber: como veio a este mundo, como devia se comportar, etc. Rica em estórias como a de Jonas e a baleia, oferecia, no mundo ocidental, modelos para a imaginação.
É importante que ao ler, a criança tenha tempo para pensar, refletir e depois ser encorajada a falar sobre o assunto, permitindo assim que ela trabalhe seus problemas e sentimentos. Quanto às ilustrações, elas distraem a atenção do foco principal e a aprendizagem perde seu significado pessoal. A imaginação da criança deixa de trabalhar os "seus monstros", criar "seu" personagem.

CONCLUSÕES > O livro infantil tem que ter algo a acrescentar à vida da criança, através de uma mensagem contida que lhe ofereça um significado, além de entretê-la e despertar sua curiosidade através de novas idéias; ele deve colocar ordem nos sentimentos e em seu mundo interior, oferecendo uma orientação à sua vida futura. A criança necessita de uma educação moral, não em termos de conceitos abstratos, mas daquilo que lhe parece correto, significativo. É nos Contos de Fadas que a criança encontra esse tipo de significado.
A necessidade infantil da mágica no seu desenvolvimento emocional e como agente construtor de sua personalidade vem sendo ignorada pelos novos modelos educacionais. Os contos de Fadas são uma dádiva de amor, apesar de toda aparência selvagem.
A construção de um significado da vida de uma criança é o maior trabalho do educador e terapeuta de crianças com graves perturbações. Se as crianças fossem criadas de um modo significativo para elas, cresceriam com uma sensação maior de segurança emocional. Nas palavras de Jean Piaget, a infância é o tempo de maior criatividade na vida de um ser humano.
Em ‘Análise dos Contos de Fadas’, o autor Bruno Bettelhein faz uma bela análise dos mais variados contos mostrando suas características e como agem na mente infantil. "A vida Adivinhada a partir do interior" (O pescador e o gênio); Transformações (A Fantasia da Madrasta Malvada); Ordenando o Caos (A Rainha Abelha); Contos de dois irmãos (As três linguagens); A Integração (As três plumas); Transcendendo a infância (A guardadora de gansos) entre outras. Na 2ª parte "Na Terra das Fadas" analisa conhecidíssimos contos: João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, João e o Pé de Feijão, Branca de Neve, Bela Adormecida, etc. Ressaltando no final a luta pela maturidade com "Cupido e Psiquê" na versão mais conhecida "O Rei Sapo", a Bela e a Fera, na versão do Barba Azul, já entrando na área dos sentimentos e emoções mais profundos.

Nota: “EGO” > é o mediador entre a energia psíquica (Id) e as circunstancias do mundo que nos rodeia. “Id” > contém a energia psíquica básica, ou libido, e se expressa pela redução de tensões. Ou seja, o Ego corresponde à racionalidade e o ‘Id’ à paixão que ignora a realidade. O ‘Super-ego’ representa a moralidade; é o defensor da luta em busca da perfeição; ele exerce pressão sobre o ‘id’.

Observação: – em atenção aos leitores do Shvoong.com (4975), o texto revisto e ampliado passa a fazer parte deste blog.