sábado, 11 de agosto de 2012

A ARTE DO USAR E JOGAR FORA


Um dos maiores problemas enfrentados pelos grandes centros urbanos está na destinação do lixo descartado diariamente, às toneladas! Lixo para todos os gostos! Reciclável ou não, mas lixo. Culturalmente criou-se o hábito de colocar para fora tudo o que não se usa mais. Se não se produzisse tanto supérfluo...
A arte também não escapa ao ritual do descarte. Há décadas criou-se  uma arte também destinada ao ‘usar e jogar fora’. Que dizer então do descarte de livros? Isto porque se perderam as referências estéticas e qualquer um pensa ter o dom da originalidade. Uma originalidade comercial sem maiores pretensões a não ser obter um retorno financeiro em curto prazo. Lucro imediato sem maiores compromissos com os valores culturais.  
Além do mais não há uma preparação cultural para entender a arte. Tudo depende da propaganda em torno do objeto oferecido e da opinião – gosto, não gosto – ante um produto na maior parte das vezes supérfluo – aquele que vai para o lixo tão logo surja outro modismo qualquer.
 A pintura, por exemplo, é pura decoração. A moda passa por uma fase de revirar baús sem a coragem de adotar o que esteticamente é melhor para os variados tipos físicos, o que resulta num desfile de mau gosto generalizado em todas as classes sociais e idades. Muitas vezes servem mais como um disfarce ou como uma fantasia carnavalesca. Ditar moda através da mídia, especialmente nas novelas tornou-se um meio de faturar cada vez mais com produtos descartáveis.
A música atual não passa de um conjunto de repetições de frases de efeito acompanhadas de gritos tribais e de batidas sincopadas que levam a uma agitação irracional de jovens que não entendem vírgula do que seja a verdadeira música. Quantos conseguem ouvir a melodia que há no canto de passarinho? No farfalhar das folhas agitadas pelo vento? - por exemplo.
Viajar é um passatempo muito interessante. Lembro de uma excursão onde entre os turistas havia uma senhora portuguesa acompanhando dois netos. Estava tão enfadada com a viagem que desabafou: - ‘Tudo é igual... Mudam os nomes dos locais, as construções, os vasinhos de flores, mas tudo é igual...” Ela praticava o turismo do ver e ver para dizer que havia visto. Perdera a capacidade de ver o diferente talvez pela falta de um preparo para ver o novo e desinteresse em aprofundar-se no conhecimento sobre o que está vendo.
Uma civilização que não tem referências sólidas e não sabe valorizar o que tem está sempre com o pé na estrada em busca do novo que não consegue ver. Assim acontece com os fazedores de lixo do mundo em geral. Já se condicionaram a ‘usar e jogar fora’.  O descarte tem incluído os valores éticos e morais, a honestidade, o respeito por si e pelo próximo entre outras cosias. Julgam-se inteligentes enquanto vão praticando a malandragem do ‘uso e abuso’ em benefício próprio momentâneo. Se esses malandros da hora soubessem o verdadeiro valor da honestidade, até por malandragem seriam honestos. Infelizmente a arte que domina o mundo moderno tem sido a arte de burlar a arte da vida. Até ela tem-se tornado descartável.