quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CRUZ NA ESTRADA

No alto de uma colina, ao longo de pequena estrada

Havia uma encruzilhada; era o caminho de nossa jornada...

E, sempre que passava por aquela encruzilhada da cruz na estrada,

Como todo passante, a cruz saudava.

Ou saudava o passante, que um dia ali tombara.

Não sei qual dos dois eu via –

Se o passante, ou a tosca cruz de madeira,

Que de braços abertos, a todos saudava.

 

Pequenina e tosca, quase no mato perdida;

Ficava ali – gigante e majestosa – em sua simplicidade e pobreza.

O coração aos saltos, muito antes de a ela chegar

Eu a via e a olhava, a medo

Tentando o mistério da vida e da morte decifrar.

 

Pequenos arbustos em suas sombras enigmáticas

Pareciam gigantes a velar pelo passante,

Que ali tombara por mãos de um seu semelhante.

A pequenina cruz, sempre envolta em flores silvestres

Ou de papel desbotado que mãos piedosas ali pousaram.

Aos pés, tocos de velas mal queimados.

Era o protesto, a reverência, a fé, o amor por uma vida

Que um dia por ali passara e sua lembrança deixara.

Numa tosca cruz  de madeira na beira da estrada.

 

Cruz na Estrada.

Quebra a noite da alma com sua Luz;

Dia e noite ao passante da encruzilhada fala;

Ela, a triste e muda cruz ali plantada,

Lembra ao passante que ele não está só,

E que na travessia da estrada da vida

Todos carregaram a cruz da sua jornada...

 

(Piraju – Dezembro – 1976)